domingo, 24 de dezembro de 2017

Caminhos...

Mais um natal, mais um fim de ano, mais datas comerciais. Independente dessas datas, seria interessante percebermos o significado por trás disso tudo.
Muitos falam em reflexões sobre o que fizemos durante o ano, repensar, planejar e bla bla bla... Talvez o que mais importe seja uma auto-reflexão. Sobre quem somos, sobre quem queremos nos tornar e sobre como podemos melhorar e melhorar o mundo que nos cerca. No fim, talvez possa se resumir tudo isso em escolhas de caminhos.

As pessoas não nos encontram por acaso, sempre há algo para ensinar e aprender. Sempre há lições para dar e tirar. E nessa data de natal talvez seja o mais importante que se deve aprender: as lições que tivemos e aquelas que podemos dar aos outros. Repassar aquilo que foi aprendido e acumular novos aprendizados.

Eu acredito que devemos aprender três coisas nessa data e também nessa vida: caridade, gratidão e amor. E dentro de cada uma dessas coisas há outras pequenas lições como perdão, respeito, compaixão, etc.

Caridade está relacionada a todos os níveis. Carnal e espiritual. A caridade deve andar de mãos dadas com outra lição, o amor. Sem este não há caridade. Sem perdão não há caridade. É preciso saber olhar além para que se possa exercer a caridade. Além de orgulhos, estereótipos, materialidade e tudo aquilo que nos coloca nessa posição de humanos consumistas e afins. Ela deve vir de dentro para fora. Deve ser totalmente feita com o coração. Não há outro caminho ou outra forma de se exercer a caridade. Ela deve ser pura, ser por simplesmente ser. Doar por simplesmente doar, sem se esperar nada em troca. É uma das maiores lições que a espiritualidade pode nos ensinar e uma das mais difíceis de se alcançar, porém o exercício da mesma nos torna grandes, valorosos. Nada pode ser mais grandioso do que exercer a caridade. Nada pode derrubar mais alguém que age mal conosco do que nos ver no exercício da caridade. Não só a caridade material, mas a caridade supracitada, aquela que vem de dentro pra fora. Aquela do coração.

A gratidão é outro braço da caridade. Não há como ter caridade sem que haja gratidão. Não somente no sentido de agradecer por tudo ou mesmo em algum sentido mais superficial como esse. Mas sim de conseguir enxergar que, mesmo com os percalços da vida há muito o que se aproveitar e que em todas as situações, por mais que não enxerguemos de cara, sempre ganhamos muito mais que perdemos. Não se trata de otimismo exacerbado, mas sim de ter a capacidade de tirar proveito em cada lição que a vida nos prepara para nos tornarmos pessoas melhores. A gratidão também é isso: é estar grato por estar aqui nessa jornada, em uma jornada de evolução, aprendendo a cada dia, seja com as conquistas ou com as adversidades da vida. Dessa forma exercemos a gratidão. Tirando o melhor proveito de toda a situação que passamos e também agradecendo por ter vivido tais experiências e conseguido evoluir. Sendo grato, as vezes, por somente estar aqui.

Por fim a principal de todas: o amor. Nada seria possível nessa vida se não houvesse o amor. E não se trata do amor entre amantes, do amor de casal. Mas do amor em uma forma abrangente, num todo. Sem esse amor, nem gratidão ou caridade seriam possíveis. Pois para que sejamos gratos e enxerguemos os pontos positivos em cada situação que passamos é necessário que haja amor da nossa parte. E para que possamos nos doar em qualquer forma para alguém ou uma situação também é ainda mais necessário que haja. Sem amor não seria possível que nenhuma lição fosse tirada ou mesmo que fossemos capazes de estender a mão ao próximo. A grande verdade é que sem amor poucas coisas seriam possíveis. Somos movidos por esse sentimento, somado a esperança que um dia poderemos colocá-lo para fora e exercê-lo da maneira como queremos. O que move cada um é isso que temos dentro de nós e não sabemos explicar. Essa talvez seja a grande lição da vida: aprender a lidar com aquilo que nos move mesmo sem saber muito bem o que é, pois não é fácil.

Assim fica então meu feliz natal. Para reflexão profunda e exercício daquilo que somos de melhor. Para que sempre seja possível acharmos nossos caminhos, mesmo perdidos nesse mundo onde tentamos encontrar algum sentido, muitas vezes essas respostas estão bem à nossa frente. Cabe a nós termos capacidade para enxergá-las e maturidade para realizar o exercício de tais valores positivos. Só assim se alcança o máximo que podemos ser.

domingo, 17 de dezembro de 2017

A missão de cada um de nós

Diz-se na espiritualidade que nossos ciclos de vida duram sete anos. Que todas as situações que passamos em sete anos fazem parte de um ciclo até que se comece um novo e assim adiante, até nosso fim. Interessante essa perspectiva visto que muitas coisas na espiritualidade estão relacionadas a sete. O nosso mundo mesmo teve sua criação em sete dias. Mas não estamos aqui para falar especificamente da espiritualidade.

O que ela tem a ver com isso é o que todos nós trazemos e devemos fazer nesse mundo, nessa vida. Aquilo que devemos fazer. Não algo em especial, mas aquilo que devemos realizar ao longo da vida. Nosso papel nessa vida.

Sempre senti, e digo isso com grande pesar, que tenho na minha missão ser uma espécie de braço, de apoio temporário para que as pessoas dêem um passo necessário em suas vidas. Sempre senti que elas vêm até mim com fraquezas, carências, dificuldades. E por algum tempo elas permanecem, até encontrarem o caminho correto e poder seguir em paz. Melhores, subindo algum degrau que faltava e que eu acabei sendo uma espécie de apoio para essa subida.

Isso é bom, mas triste ao mesmo tempo. É duro ver que sua missão aqui é somente ser algo temporário na vida de alguém. Nesse sentido, sempre me senti como um grande observador da vida, que está sempre a olhando e admirando e quando surge alguém que me tire dessa espécie de "platéia" é somente para dar aquela força temporária. Aquele empurrão que essa pessoa precisava para melhorar, evoluir.

Depois disso, parece que volto ao meu lugar de platéia, esperando a próxima pessoa que venha se salvar de alguma forma em mim só para poder melhorar. Isso é quase uma certeza intuitiva que tenho. E é ruim. Não posso dizer que ajudar o próximo seja ruim. Mas digo que ser essa pessoa que tem isso como missão, sim, é bem ruim.

A sensação que mais tenho é como se eu voltasse sempre ao mesmo lugar. Muitas vezes um tanto ferido por ter entendido, sugado e me envolvido nas dores e nas lutas daquela pessoa. É como se eu sempre perdesse uma batalha, saísse sempre cansado, ferido... Esgotado. E a recomposição é penosa. Dura, difícil e pouco benéfica.

Mas entendo que se isso é missão, deve ser cumprido. Se essa foi a reserva divina que tenho, deve ser cumprida. Por mais doloroso que seja, por mais que sempre me recoloque no mesmo lugar onde eu estava antes de toda jornada que alguém inicia comigo, parece que deve ser assim e que nunca irá mudar. Sim, é triste. É triste ser a ponte de alguém, pois é triste ser o que é uma ponte: um lugar de passagem, que evita a queda e que é sempre pisada. Ninguém vive em uma ponte. Ela é solitária, sempre a espera da próxima pessoa que irá pisa-la, se sentir segura para não cair, mas no fim atravessa e chega ao outro lado. Outro lado que essa ponte aqui não estará.  Dizendo adeus.

Nunca podemos reclamar do nosso carma. Se é essa nossa reserva divina, então é essa nossa reserva divina. Deus jamais disse que algo seria fácil, disse que valeria a pena. Porém, difícil é enxergar que algum dia haverá alguma retribuição nessa vida por ter segurado a queda e ajudado tantas pessoas a atravessar até o outro lado. Lado que você não está. Pois minha posição é essa, ser a ponte. Ficar ali parado, esperando quem irá passar.

Nada nessa vida é explicável ou lógico. Não sabemos de absolutamente nada, somos apenas meros especuladores daquilo que achamos que estar por vir. Mas algo é certo: tudo segue uma linha de acordo com a missão que cada um de nós têm. Tudo está acontecendo por uma causa e um propósito, por aquela missão que temos nessa vida. E o que eu aprendi com a minha missão até hoje? Aprendi que a bondade não é lá algo que se dê muito valor. Ela, na visão das pessoas, deve ser subserviente, um esteio para aquele que atravessa seu momento difícil. Para que possa se curar e chegar seguro ao outro lado. E a grande maioria não entende isso. Não vai entender esse texto. Pois a grande maioria é caminho. Esse dom (ou castigo) vem para poucos, felizmente ou não.

O que fazer quando se tem a missão de ser ponte? Ser forte. Como? É problema de cada um que é ponte. Mas é difícil ser forte sempre. Ainda mais quando já se é uma ponte muito pisada, gasta... Cansada de ser ponte. É difícil dar todo o suporte e depois dizer adeus ainda desejando que quem você ajudou só encontre felicidade, pois a maldade jamais pode habitar o coração de quem nasceu para ajudar o próximo. Posso dizer que sou uma ponte querendo ser caminho. Querendo,  pois se minha missão é ser ponte, difícil vai ser que um dia eu seja caminho.
A felicidade de um só é alcançada às custas da tristeza do outro.
E isso é triste...