segunda-feira, 15 de maio de 2017

Bons valores, falsa prática

Dia desses me peguei lendo umas frases numa rede social. Acho incrível como as pessoas são boas por lá. Há, na verdade, um lado positivo nisso tudo: um culto a valores positivos de fato. Porém, existem quilos de hipocrisia por trás do discurso fofo, sensato e bonzinho..

Sempre vejo essas postagens de pessoas falando sobre si, "simplicidade é tudo", "o valor está nas pequenas coisas", mas quando chega a hora prática, de vermos o exercício desses valores, são eles suprimidos por toneladas de ostentação: "melhor lugar", "top" e afins. Vale a pergunta: onde foi parar "simplicidade é tudo"?

Não, não é uma crítica pelo modo como você gasta seu dinheiro. Desfaça-se da materialidade e tente me acompanhar. O ponto aqui é como existe uma distância quilométrica entre os supostos valores que parte da sociedade prega e o agir de fato. Sim, pois não basta ser o boa praça do discurso bonito, o militante com a ideologia "perfeita", o experiente que pra tudo tem uma solução bonita e indolor. Definitivamente, não. É preciso ir além do discurso na rede social. É muito bonito e politicamente correto achar a simplicidade, as pequenas coisas, as pequenas atitudes e blá blá blá como o ideal que cada ser humano deveria cultivar (e exercitar) em seu convívio social, no seu dia-a-dia. Também é legal quando você prega esses valores na rede social e recebe inúmeras curtidas, afinal, "tô sendo amado pois sou positivo". Mas, e aí? E a prática? Ser humilde é bom ou ser humilde é bonito?

Praticar está muito longe de apenas reconhecer valores como corretos ou mesmo como socialmente aceitáveis para que você se torne uma pessoa amada por todos. E tirando da minha experiência eu digo que 90% dos casos se resume a isso: conquistar um status social do politicamente correto e bom ser humano, que tudo de frágil e simples se protege e valoriza. Sem essa! O que mais se vê é o contrário: o culto a tais valores e as atitudes inversas a eles. Talvez seja uma forma que cada um encontra de mascarar os valores que estão atrelados às suas atitudes. Talvez seja uma maneira de tentar se tornar mais suportável, não ter que lidar com a realidade suja de si mesmo. Todos temos monstros que nos habitam, e fazemos frequentemente o processo de transferência do nosso lado negativo (e até mesmo do positivo). Acabamos projetando o que não gostamos no amigo, no vizinho chato, no professor e em qualquer um que a gente ache digno de receber aquilo que não gostamos em nós mesmos.

Com o advento e o boom da internet, talvez essa seja uma nova forma. Não de transferência, mas sim de enaltecer certos valores positivos para não se ter que lidar com a realidade do próprio "eu." Como bem disse Sartre, nós não fazemos aquilo que queremos, porém somos responsáveis pelo que somos. Pregar valores que não se pratica pode ser a nova forma de não ter que lidar com aquilo que se é realmente. Com o lado que somos, mas não gostamos de ser. Na minha opinião isso denota fraqueza. Todos somos iguais, todos dotados de defeitos e qualidades. Encarar nosso pior lado é, muitas vezes, positivo. Ser o cara legal, que tudo acerta e que sempre está disposto a "ser humilde" é o ideal que talvez ainda não chegamos, e é muito provável que nem iremos chegar. Provavelmente essa frustração traga isso: "se eu não chegarei lá, preciso pelo menos pregar isso."

Parece mesmo é que essa falsa pregação de valores... Melhor, esse culto de valores inversos àquilo que é praticado se tornou um vírus social, uma doença social onde só o gramado da própria casa é verde, esquecendo-se da realidade chocante do restante do mundo. "Cabe e é válido mostrar ao mundo minha benevolência, mesmo que por trás eu seja um tirano". Mas talvez, como eu disse, isso traga paz a esse indivíduos tão consumidos pela ansiedade na infinita busca por algo que os realize, que nem eles mesmos sabem o que é. Talvez a paz venha daí: de cultuar os ideais que não conseguiremos atingir.

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