segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Latrina Argumentativa de Parte da Sociedade


Voltando depois de muito tempo, vou ver se dou uma mudada nessa bagaça e agito mais isso aqui.
Mas hoje é hora de falar o que veio se criando por alguns anos e está mais proliferado: a má consciência política/social de parte da sociedade.

As manifestações de 2013 foram uma espécie de marco pro povo acordar para aquilo que está errado em nosso país. Acordou, mas parece ainda estar descansando. O gigante se levantou, mas anda meio preguiçoso... Porém, pior do que estar preguiçoso é aquela parcela que não faz parte do gigante (por opção, muitas vezes) e prefere se manter no conforto da inércia, disparando críticas e mais críticas e... Pera... Não, é isso mesmo. Só dispara críticas.
Que parte é essa do povo que se sente tão importante, mas se mexe muito pouco para mudar algo? Que parte é essa que acha que compartilhando suas críticas em redes sociais estão ajudando? Respondo: essa parte provém de várias classes e ideologias, mas tem em comum algo: criticam, e ponto. E dessa forma, nada ajudam a construir.

Na verdade, uma parcela da sociedade acordou, outra não, mas optou por seguir um rebanho. Temos dois rebanhos no Brasil: um que anda no lado esquerdo e outro no direito. Eles, por vezes, até estão de mãos dadas, mas vivem brigando. Pois bem, assim se fez a divisão (estúpida) e assim muitos optaram pelo lado do rebanho a seguir. Então, para seguir, tiveram que colocar viseiras laterais, e hoje, tais ovelhas só conseguem enxergar o que há na frente. Não foram adestradas a olhar pros lados... Na verdade, foram impedidas por si próprias, pois optaram em pôr tais viseiras.

Saber ponderar e reconhecer que os dois lados do rebanho fazem coisas positivas e negativas é o mínimo da coerência. Mas, não. Valores foram invertidos e o errado passou a ser defendido, por ambos os lados. A ideia de país, de nação, se perdeu. Há agora os que defendem seus lados e o Brasil permanece esquecido. Viramos um grande palco do "qual lado está mais certo", e o povo, vez ou outra, mostra sua unanimidade, fazendo com que os bobos da côrte aplaudam a vitória do seu lado. Mas nunca é uma vitória, pois o lado que perdeu jamais assume a derrota. O que ele faz? Isso mesmo. Se há perspicácia da sua parte você já sacou: defende o errado, mesmo sendo errado, mesmo sendo absurdo, criam-se argumentos para que o errado vire certo. São verdadeiros bobos da côrte, ovelhas dando show a seus pastores (que mal sabem que elas existem).

Ah, sim, vocês querem os exemplos práticos. E como eu gosto de polêmica (e prevejo muitos chororôs após esse post) vou logo dar nome aos bois, melhor, as ovelhas.

1 - Ano passado, em Cariacica (ES), um servidor da PM, membro do BME, foi morto em uma troca de tiros, no dia sete de setembro. Arranjaram um culpado, menor, e até campanha para redução da maioridade penal houve. Bradou-se facebooks afora o tamanho absurdo. Porém, a perícia conclui que a bala que tirou a vida do soldado partiu da própria polícia. Calou-se, facebooks afora. Além de calar, os poucos que debateram, de alguma forma, tentaram culpabilizar o rapaz que não matou ninguém, mesmo havendo laudo pericial da própria polícia dizendo que não foi ele. Já deu para sacar aquela coisa de defender o errado, né?

2 - Jair Bolsonaro (sim, ele mesmo), dentre suas toscas afirmações, já criticou e muito todo o gasto excessivo do governo. Criticou a quantidade de dinheiro que se gasta na Administração Pública e não, nisso ele não está errado. Mas, SEMPRE (isso, sempre, toda vez) ele vota a favor do aumento salarial para deputados federais, presidente, ministros, etc. Ué, mas e defender "gastar menos"? Juntando o gasto do Senado e Câmara Federal, gasta-se por volta de 1 bilhão de reais por ano. Isso mesmo, o cara que defende menor gasto parece não se importar com esse valor e com os 144 mil reais (aprox.) por mês que ele despende ao Estado. Seus eleitores se importam com isso? Parece que não. Há necessidade de termos 513 deputados para legislar? Acho que resposta é bem óbvia. Se com esse número fazem cagadas atrás de cagadas, o ideal seria reduzir. Mas, seu rebanho parece bater palma para as suas afirmações morais e espalham por aí a política do neo idiotismo. E defender redução dos gastos públicos diminuindo os salários e benefícios dos deputados? Não falam sobre isso.

3 - Um dos mais graves problemas do brasileiro é conhecer política lendo os canais mais desconfiáveis da internet. As redes sociais ajudam nesse processo, pois muitas afirmações são manipuladas ou usadas de forma errônea. Nessa esteira criou-se a generalização emburrecida. "Eu sou favor da ditadura e bandido bom é bandido morto", disse uma ovelha da direita. "Mas, de repente, podemos ver outras soluções menos radicais..." disse alguém mais sensato. "Você é um porco, defensor de bandidos, socialista-comunista-satanista-terrorista-esquerdista (e mais alguns adjetivos com sufixo "ista") e não sabe porra nenhuma!" Esperneou a ovelha da direita. Ou seja, tal fenômeno é: "se pensar diferente de mim, você é um idiota, pois o céu está azul mas eu quero que esteja roxo e você não pode dizer que ele está azul."

4 - A falta de capacidade racional para analisar as situações políticas e os argumentos com quem se debate. Falta uma análise lógica dos fatos por parte do brasileiro. Algo pautado no racional. Parece que houve uma mistura com as convicções pessoais daqueles que criticam, tornando-se algo que deveria ser lógico e racional, subjetivo, dando esse "poder julgador" da moral alheia, deixando esquecido aquilo que mais importa.
Tal problema parece crônico. Não importa o quanto você fale, não importa  o quanto gaste seu latim, a resposta será só uma: "hahaha, você não sabe nada." Para as ovelhas do pastor Bolsonaro se ouve até menos, algo tipo "bolsomito", "bolsonaro presidente", etc. São como pokémons, falam mais que o próprio nome, mas poucas palavras só. Nesse quesito dá pra ver, claramente, que o importante não é brigar por aquilo que é melhor ao país, pelo interesse público. Dá pra ver que o legal é alimentar essa guerra burra de lados. Uma guerrinha puramente moral, sem sentido, onde cada um só quer ganhar batalhas, pois o legal é eu ter o argumento melhor que o dele.

E pra piorar tudo isso, aconteceram as eleições. E o pós eleição parece estar sendo muito pior. A burrice parece estar chegando a níveis além humanos. Um exemplo? A violência assola o Rio de Janeiro. Desde muito tempo. E eu ouço coisas como: "culpa da Dilma." Ok, a Dilma tem muita culpa em diversas situações ruins no nosso país. Mas, segurança? Até certo ponto tem a ver, depois, não. E o ponto principal (gerir e prover a segurança) é responsabilidade do governo do estado. Porém, ninguém cita o atual governador Pezão. Incoerência? E quanta! Aí essas ovelhas que agora leem isso, já estão me taxando em suas mentes rasas de "defensor do PT." Isso, sem sequer me conhecer ou procurar saber de fato o que realmente penso politicamente ("fenômeno da generalização"). Prevenindo esse problema, ouça: não sou o pastor de vocês, mas, acreditem, não defendo o PT. "Béééééé! Bééééééé!" Bradou a ovelha ao ler minha frase.

Citei quatro, mas há inúmeras "desqualdiades" que são, infelizmente, pensadas, abraçadas e proliferadas Brasil afora. Infelizmente o brasileiro não adquiriu consciência social, a capacidade de debater, de fato, soluções. O brasileiro quer debater moral, pra apontar para a sua e dizer que é um lixo, mesmo que o conceito de moral seja subjetivo. Ou seja, o brasileiro gosta de julgar.
E quando digo consciência social é no sentido de ser consciente do que acontece em nossa sociedade, aquilo que deve ser mudado e como deve. Vejo por aí pessoas com ideologias neo-liberais que vivem cobrando o Estado. Ora, se você defende um "cada um por si" e uma economia livre, como pode cobrar do Estado? Como pode apontar tanto o dedo para o Estado ao invés de ir fazer o seu "cada um por si", com sua ideologia de livre iniciativa e meritocracia? É muita incoerência. É muita hipocrisia e muita falsidade ideológica, ideologia que só existe na teoria, mas no aperto, sempre gritam, "Estado, vem me salvar!" Eu apoio a ideia de maior responsabilidade estatal contrabalanceando com menor taxação para o empresariado e estimulação de mercado (não vou esmiuçar agora). Mas não apoio o estado mínimo.

Essa é uma crítica puramente moral, é o exercício daquilo que os "politizados" contemporâneos gostam de fazer. Uma observação sobre uma mudança nada positiva quanto a visão social que muitas pessoas têm hoje em dia, muitas delas se colocando contra o Estado, mas em manifestação que pleiteiam diminuição de tarifa de transporte, por exemplo, se colocam ao lado do Estado (geralmente representado pela polícia nesses eventos) e acham errado ir as ruas para pedir que algo que não se concorda seja revisto. Novamente: é muita incoerência. Acham legal pagar altas tarifas.

Por fim, deixo meus pêsames e torço, de verdade, pra que essas ovelhas retirem as viseiras e possam enxergar além de suas convicções tão "certas e perfeitas." Até culpar quem votou no PT eles culpam, acreditem! Mas gritam por aí que votaram no PSDB, partido mais corrupto do Brasil.

Como eu digo, triste. Ignorante e triste.








Fontes de pesquisa: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2015/01/noticias/cidades/3886884-soldado-feu-foi-morto-por-colega-de-farda-conclui-a-policia-civil.html

http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/deputado-e-senador-custam-mais-de-r-1-bi-por-ano/

http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/blog/2014/09/26/justica-eleitoral-confere-titulo-inedito-ao-psdb-o-partido-mais-corrupto-do-brasil/


2 comentários:

  1. Maravilhosa colocação. A poucos dias questionei alguns amigos se eles podiam tirar a viseira e olhar para os outros lados.

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    1. E olha que esse texto tem tempo, hehehe... Obrigado pelo elogio.

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