Muitos afirmam que a eleição de Bolsonaro para a Presidência foi o maior “estelionato eleitoral” do país. Afirmação feita no sentido de ele ter prometido fazer algo diferente do governante comum, mas ter atitudes similares, voltadas para si e seu projeto de poder no serviço público, ocupando cargos eletivos (agora, na Presidência da Republica).
Nada que
seja surpresa, visto que em seus discursos durante sua vida política e até
mesmo em sua conduta como militar, ele já deixava clara sua intenção de
conseguir uma ascensão econômica através do trabalho que estivesse exercendo,
seja no Exército, como parlamentar, etc.
E uma tática
mais que perceptível nesse processo de ascensão, é o uso de “degraus políticos”
que o Presidente fez e permanece fazendo, onde somente ele sobe, porém, reflexamente,
acaba criando e expondo possíveis adversários.
Um dos
primeiros degraus dessa jornada talvez tenha sido Gustavo Bebianno. Coordenador
da campanha eleitoral de Bolsonaro de 2018 e posteriormente Ministro da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Bebianno teve uma demissão um
tanto confusa e considerada até mesmo covarde, tendo sido o estopim da denúncia
do empresário Paulo Marinho contra o senador Flávio Bolsonaro, conforme ele
mesmo afirmou. Bolsonaro teria conseguido grande êxito na campanha devido à
atuação de Bebianno, e depois de ter chegado ao poder o dispensou, como aquilo
que ele mesmo considera suas bases eleitorais: algo de mero uso para alcançar
o que quer.
São perceptíveis alguns outros degraus, tanto antes como depois de ser eleito. O
discurso antipetista e pró lava-jato foram alguns. Do antipetismo o presidente
ainda não se desfez, talvez por ainda não ter precisado. O lavajatismo ele vai desidratando
aos poucos. Mas com um interesse específico: enfraquecer uma possível candidatura de Sérgio
Moro à Presidência em 2022. Moro pode sim ser um forte adversário, apto a
abalar uma reeleição de Bolsonaro. Enfraquecer a Lava-Jato e apontar suas
falhas, ressaltando-a como uma operação negativa e não benéfica contra a
corrupção, faz parte do jogo eleitoral dele.
Aliás,
Sérgio Moro também foi mais um degrau usado na caminhada de Bolsonaro. Talvez o
principal. Foi quem colocou seu principal adversário político na cadeia,
entoava um discurso anticorrupção e era tido como uma espécie de super ministro.
Bolsonaro o usou, até a hora que Moro começou a esbarrar em possíveis ilicitudes
da família do Presidente e uma estranha obsessão pelo controle da Polícia Federal
do RJ.
Dessa forma,
Bolsonaro não apenas deu mais notoriedade a Moro, como também formou um
antagonismo perigoso para ele próprio. Moro agora é uma ameaça a seu projeto de
poder. Talvez o degrau que tenha custado mais caro a Bolsonaro e que ainda
possa cobrar seu maior preço numa futura eleição.
Muito
provavelmente o próximo degrau que está com seus dias contados é Paulo Guedes.
As atuais divergências do Ministro da Economia com o Presidente são notórias. Guedes já está
raspando o fundo da panela, pois sabe que em breve pulará do barco (ou será
jogado fora dele). E assim, pode ser mais um possível antagonista de Bolsonaro
e também candidato, não à presidência, pela falta de força política, mas se aliando a
algum possível candidato (o próprio Sérgio Moro) ou a um governo estadual, etc.
Dessa forma,
Bolsonaro segue fazendo uso de movimentos, bandeiras, pessoas, ideias para
conseguir se manter. Não lhe importa muito em que acreditar, mas sim o capital
político que possa render a ele. O que é perigoso para seu projeto, visto que
muitos que saíram de seu governo ganharam força política por antagonizar com o
Presidente, tendo ideias de maior receptividade pela sociedade e demonstrando mais empatia
e identificação com boa parte do eleitorado. Imaginem uma Chapa de Moro com
Mandetta e um Paulo Guedes como possível Ministro. Bolsonaro resistiria?
Talvez seu último reduto, não de degraus, mas de tentativa de estabilidade política, seja o centrão.
O Governo se tornou uma figura dúbia. Muitos não querem vincular sua
imagem a ele, porém outros ficam tentados pelo poder, remuneração e notoriedade
que poderão ter por fazerem parte dele.
Bolsonaro
pensa no agora. No que precisa fazer para se manter. Mas não percebe que,
antagonizando com tantos, cria novas possibilidades que ameaçam seu próprio
projeto. O tal “bolsonarismo” não dura muito, pois é um movimento
auto-destrutivo. Ao mesmo tempo que antagoniza com adversários e até com aliados, dá
espaço para que eles ganhem holofotes e se projetem politicamente.
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