Entretanto
não podemos deixar de reparar em aspectos alimentados por nossa sociedade para
que chegássemos a esse ponto. Afinal, a política não se faz sozinha, é
necessário todo o movimento social, em termos de cultura, valores e anseios
para que se possa definir quem tomará a frente do país. Os rumos políticos, ao
contrário do que muitos pensam, não se definem (somente) nas urnas, mas no
jantar depois do trabalho, nos almoços de domingo, nas discussões entre amigos
e família sobre política e demais ramos e no que a mídia ventila como sendo de importância
para o saber coletivo.
Através
desses mecanismos e de mais alguns adendos, a sociedade se une, se divide e
determina o rumo nos cargos eletivos da Administração Pública do país. E nesse
momento nós estamos nos perguntando: quem nos representa?
O Brasil
apostou em um político de carreira como chefe de Estado e Governo. Porém, esse
não correspondeu aos anseios da maioria depois de ocupar a cadeira presidencial,
e agora o país se depara com uma questão que é cruel para o brasileiro: quem
nos salvará?
Infelizmente,
a política virou um jogo de estrelas, e o que brilhar mais, leva, mesmo que
seja um completo despreparado para o serviço. O brasileiro, nas suas conversas
e debates, nas impressões sobre o que a mídia reverbera, elege seu mártir, seu
salvador, e assim se isenta de qualquer responsabilidade que possa ter na vida
pública, como se não fizesse parte da sociedade.
A
polarização extrema tomou conta, o ideal de pluralismo político preconizado
pela Constituição Federal parece ter se repartido em dois lados que não fazem muito além de apontar os defeitos em seus opositores, sem olhar para si próprios.
Nisso, a sociedade agoniza. Figuras que mais prezam pela política que pelo
interesse público alimentam a narrativa do “quem vai ganhar” em eleições futuras.
A ideia republicana de governo escorre pelo ralo sem que muitos façam o barulho
necessário para fechar essa ferida.
Em 16 de
abril deste ano, o Ministro da Saúde Henrique Mandetta deixava seu cargo, após
o já conhecido desentendimento com o atual Presidente da República. No dia
seguinte, devido ao trabalho que fez junto ao citado Ministério, a tag
#Mandetta2022 já era vista em publicações em redes sociais. O mesmo ocorreu
quando o ex-ministro da justiça Sérgio Moro deixou o Governo. É escancarada a
falta de uma representação digna dos valores democráticos do brasileiro. Não há
essa figura, há uma sociedade perdida, buscando por um caminho, por alguém que
represente o mínimo que seja necessário para se governar e não mais fazer o
país prosperar, mas para fazer com que não entremos em queda livre num abismo
sem fim.
Há carência de
líderes, de representantes que não sejam narcisistas, preocupados com suas
carreiras e não com seu país, preocupados em livrar amigos, familiares, de
esquemas já conhecidos de captação de verbas públicas, etc. Aquele que
demonstre uma honestidade mínima, carisma e identificação com a sociedade e
seus problemas e também valores que a maioria considera importantes, ganha o nome
entre a # e o 2022. Até lá, veremos essa busca de uma sociedade que não sabe mais
o que pensar em um cenário político que agora se reduz a dois lados e não
mostra uma alternativa pujante, a ponto de fazer com que digitemos seus
números nas urnas.
E o que fica exposto, ao final, é o tamanho da falha em nosso sistema educacional, retratado em escolhas ruins e numa sociedade que se define pelo extremo, e agora padece de alguém minimamente competente para que governe o Brasil que outrora fomos, e hoje sentimos falta, mesmo que à época reclamássemos. Mas isso já é assunto para outro post...
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