A fórmula parece simples, porém não é. Ainda há uma pandemia, a economia está em frangalhos e as perspectivas são todas de piora e exatamente por tais fatores que não há de onde tirar numerário para um programa de renda. Sim, não há dinheiro para isto. A tática era tentar tirar dos precatórios, dificultando pagamento de dívidas do Estado e do FUNDEB. Ambas propostas vistas com muita rejeição pelo Legislativo Federal. E novamente, tudo pela política, para se manter no poder, nada além. Não há projeto econômico por trás do tal programa, não há motivo nem mesmo lógica para criar algo que irá onerar mais ainda o Estado. Há, somente, sede de permanecer no poder.
O Brasil não vai bem, ele só tenta disfarçar. O nível de desemprego subiu, a administração da pandemia foi desastrosa (somo uns dos países com o maior número de mortos), a (falta de) política ambiental já prejudica negócios internos e externos, temos uma marca histórica de fuga de capital do país e se eu fosse citar mais problemas, dariam algumas postagens. A última jogada é a medida mais "populista" possível: "dar" dinheiro ao povo com a marca deste governo. O Bolsa Família soa petista, não há lucro político para esse governo com tal programa. A necessidade deles é um programa que, de alguma forma, expresse alguma identidade deste governo.
Não temos nem 2 anos de da atual administração, e o governo já está tomando medidas um tanto "desesperadas" para inflar uma popularidade que pouco tem e tentar uma reeleição em 2022. Desidratar a Lava-Jato também é uma tática, mas esse é outro assunto.
Fato é que, caso haja viabilidade do tal programa de renda, este pode ser a estabilização política desse governo ou o início do seu fim. Não há sustentação com a realidade para tantos desmontes e políticas prejudiciais em tantas áreas no país, somente para agradar certos grupos. O programa de renda é um tiro no escuro. Não garante uma reeleição, mas também não tira a possibilidade. Enquanto isso, seguimos ouvindo e lendo tais absurdos, de que as queimadas são ações de terceiros e que o governo estaria tomando ações eficazes, que há indústria de precatórios, perseguição a parlamentares, governantes e outras pessoas por discordarem do governo, etc. Fiquem atentos, tudo isso será cobrado no futuro.
Um governo inconsequente esquece que o amanhã sempre vem e que a realidade se impõe. Sempre.
quarta-feira, 30 de setembro de 2020
Precatórios, Guedes e um programa de renda
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Os Degraus de Bolsonaro
Muitos afirmam que a eleição de Bolsonaro para a Presidência foi o maior “estelionato eleitoral” do país. Afirmação feita no sentido de ele ter prometido fazer algo diferente do governante comum, mas ter atitudes similares, voltadas para si e seu projeto de poder no serviço público, ocupando cargos eletivos (agora, na Presidência da Republica).
Nada que
seja surpresa, visto que em seus discursos durante sua vida política e até
mesmo em sua conduta como militar, ele já deixava clara sua intenção de
conseguir uma ascensão econômica através do trabalho que estivesse exercendo,
seja no Exército, como parlamentar, etc.
E uma tática
mais que perceptível nesse processo de ascensão, é o uso de “degraus políticos”
que o Presidente fez e permanece fazendo, onde somente ele sobe, porém, reflexamente,
acaba criando e expondo possíveis adversários.
Um dos
primeiros degraus dessa jornada talvez tenha sido Gustavo Bebianno. Coordenador
da campanha eleitoral de Bolsonaro de 2018 e posteriormente Ministro da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Bebianno teve uma demissão um
tanto confusa e considerada até mesmo covarde, tendo sido o estopim da denúncia
do empresário Paulo Marinho contra o senador Flávio Bolsonaro, conforme ele
mesmo afirmou. Bolsonaro teria conseguido grande êxito na campanha devido à
atuação de Bebianno, e depois de ter chegado ao poder o dispensou, como aquilo
que ele mesmo considera suas bases eleitorais: algo de mero uso para alcançar
o que quer.
São perceptíveis alguns outros degraus, tanto antes como depois de ser eleito. O
discurso antipetista e pró lava-jato foram alguns. Do antipetismo o presidente
ainda não se desfez, talvez por ainda não ter precisado. O lavajatismo ele vai desidratando
aos poucos. Mas com um interesse específico: enfraquecer uma possível candidatura de Sérgio
Moro à Presidência em 2022. Moro pode sim ser um forte adversário, apto a
abalar uma reeleição de Bolsonaro. Enfraquecer a Lava-Jato e apontar suas
falhas, ressaltando-a como uma operação negativa e não benéfica contra a
corrupção, faz parte do jogo eleitoral dele.
Aliás,
Sérgio Moro também foi mais um degrau usado na caminhada de Bolsonaro. Talvez o
principal. Foi quem colocou seu principal adversário político na cadeia,
entoava um discurso anticorrupção e era tido como uma espécie de super ministro.
Bolsonaro o usou, até a hora que Moro começou a esbarrar em possíveis ilicitudes
da família do Presidente e uma estranha obsessão pelo controle da Polícia Federal
do RJ.
Dessa forma,
Bolsonaro não apenas deu mais notoriedade a Moro, como também formou um
antagonismo perigoso para ele próprio. Moro agora é uma ameaça a seu projeto de
poder. Talvez o degrau que tenha custado mais caro a Bolsonaro e que ainda
possa cobrar seu maior preço numa futura eleição.
Muito
provavelmente o próximo degrau que está com seus dias contados é Paulo Guedes.
As atuais divergências do Ministro da Economia com o Presidente são notórias. Guedes já está
raspando o fundo da panela, pois sabe que em breve pulará do barco (ou será
jogado fora dele). E assim, pode ser mais um possível antagonista de Bolsonaro
e também candidato, não à presidência, pela falta de força política, mas se aliando a
algum possível candidato (o próprio Sérgio Moro) ou a um governo estadual, etc.
Dessa forma,
Bolsonaro segue fazendo uso de movimentos, bandeiras, pessoas, ideias para
conseguir se manter. Não lhe importa muito em que acreditar, mas sim o capital
político que possa render a ele. O que é perigoso para seu projeto, visto que
muitos que saíram de seu governo ganharam força política por antagonizar com o
Presidente, tendo ideias de maior receptividade pela sociedade e demonstrando mais empatia
e identificação com boa parte do eleitorado. Imaginem uma Chapa de Moro com
Mandetta e um Paulo Guedes como possível Ministro. Bolsonaro resistiria?
Talvez seu último reduto, não de degraus, mas de tentativa de estabilidade política, seja o centrão.
O Governo se tornou uma figura dúbia. Muitos não querem vincular sua
imagem a ele, porém outros ficam tentados pelo poder, remuneração e notoriedade
que poderão ter por fazerem parte dele.
Bolsonaro
pensa no agora. No que precisa fazer para se manter. Mas não percebe que,
antagonizando com tantos, cria novas possibilidades que ameaçam seu próprio
projeto. O tal “bolsonarismo” não dura muito, pois é um movimento
auto-destrutivo. Ao mesmo tempo que antagoniza com adversários e até com aliados, dá
espaço para que eles ganhem holofotes e se projetem politicamente.